EDVANDRO MENEZES SILVA

06/06/2013 14:04

FORUM modulo 2 – LEITURA E ESCRITA

 

De acordo com todos  depoimentos lidos no fórum , todos os homens têm deveres e direitos iguais, todos, indiscriminadamente, garantidos pela constituição da grande maioria dos países do mundo; todos, sem exceção, devem ser integrados na sociedade, participando da aquisição, produção e utilização dos bens culturais. Na realidade, os discursos e as boas idéias democráticas sem a prática social e um ensino de qualidade que corresponda às necessidades primordiais dos seres humanos não garantem a democracia.

No Brasil, observamos que as realizações se distanciam e reforçam a desigualdade e discriminação social. Hoje, o acesso à escola é universalizado, mas falta o projeto pedagógico fundamental para estimular e reforçar a participação do aluno de forma que saia das escolas com seu conhecimento construído e que esteja apto, assim, para seguir sua vida em sociedade. Porém, o que vemos, é uma escola onde o aluno nem ao menos sabe ler e escrever seu nome, e onde a leitura é deixada ao léu. A Leitura não é o simples ato de ler um texto, livro ou qualquer coisa  escrita, a leitura tem a finalidade de levar o leitor à busca da compreensão do que lê, num diálogo onde possa refletir, interferir e transformar tudo isso em conhecimento e prática circular e infinita.

                  Paulo Freire, em seu livro “A importância do ato de ler em três artigos que se completam” (2001), nos aponta muitas faces desse ato, dos quais pode-se destacar. Segundo Paulo Freire (2001, p. 15),  a  leitura envolve vários momentos na vida de um ser humano, sendo que a mais importante a ser realizada é a leitura de seu próprio mundo; pois, compreendendo seu mundo imediato, a criança é introduzida no mundo da palavra. A decifração desse mundo da palavra vem da leitura de seu mundo particular.

                     Paulo Freire (2001, p. 18) afirma que “Alfabetizar-se é adquirir a língua escrita através de um processo de construção do conhecimento, dentro de um contexto discursivo da interlocução e interação, com uma visão crítica da realidade”, no que encontra concordância com Rojo (2004) que afirma que existe na escola uma ineficiência e aponta um distanciamento em relação às práticas significativas. Em seu livro consta a frase de autoria de Ziraldo que afirmou “Ler é melhor que estudar”, que é uma opinião quase unânime, compartilhada pela população letrada e pertencente às elites intelectuais brasileiras: intelectuais professores do ensino fundamental, médio e universitário, jornalistas, comunicadores da mídia.

 

No entanto, a maior parcela da nossa população, embora hoje possa estudar, não chega a ler. A escolarização, no caso da sociedade brasileira, não leva à formação de leitores e produtores de textos proficientes e eficazes e, às vezes, chega mesmo a impedi-la. Ler continua sendo coisa das elites, no início de um novo milênio. (ROJO, 2004, p. 01)

 

                  Sendo assim , podemos  falar  sobre  que  o  ensino de hoje hoje na escola pública está deixando a desejar quanto à construção do conhecimento, as aulas são ministradas pelos professores e livros didáticos levam ao aluno um ensino pré-fabricado, mecanizado e sem nenhum significado para o seu dia-a-dia, quando o aluno tem que responder um questionário com cópia de palavras embutidas no texto. Isso gera uma resposta decorada, mecanizada. Esse tipo de ensino fragmentado e mecanizado, sem significado nenhum é cobrado pelos professores, pois a avaliação é severa e isso gera um grande vazio em termos de conhecimento.

Segundo a  LDB o que nos interessa nesta pesquisa, a questão da língua portuguesa, vemos que essa disciplina deve dar ao aluno as condições de ampliar o domínio da língua e da linguagem o que é essencial para o exercício da cidadania. O aluno deve saber:

a)      Ler e escrever conforme seus propósitos e demandas sociais;

b)      Expressar-se apropriadamente em situações de interação oral;

c)      Refletir sobre os fenômenos da linguagem;

d)     Trabalhar com uma diversidade de textos e fazer análise crítica dos discursos.

 

                  Mas ser letrado e  ler na vida e na cidadania é muito mais que isso: é escapar da literalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e avaliando posições e ideologias que constituem seus sentidos; e, enfim, trazer o texto para a vida e colocá-lo em relação a ela. Mais que isso, as práticas de leitura na vida são muito variadas e dependentes do contexto, cada um deles exigindo certas capacidades leitoras e não outras.

                     Cabe ao professor levar seus alunos ao ato de leitura sadia e que tenha fundo cultural, já que é esse profissional que delimita todos os quadrantes do terreno da leitura escolar. Sem a sua presença atuante, sem o seu trabalho competente, o terreno dificilmente chegará a produzir o benefício que a sociedade espera e deseja, ou seja, leitura e leitores assíduos e maduros.

                     Atualmente tudo parece caminhar muito bem com a escola de nível fundamental, com duração de nove anos, obrigatória, segundo a Lei de Diretrizes e Bases nº. 9394/ 96 e que deve ser aberta a todas as crianças a partir dos 07 anos, sendo que a criança só pode sair de uma escola tendo garantido a vaga em outra. A cada ano reformula-se o currículo, oferecem-se novas visões de ensino, metodologias novas, mais atraentes, enfim, com todo o aparato da atualidade, as matrículas nas escolas básicas crescem vertiginosamente a cada ano.

                  Os pais trabalhadores são os mais preocupados em matricular seus filhos nas escolas das cidades onde moram. Enxergam nessa chance do filho ir à escola, um futuro melhor e promissor. Mas, será que tudo anda realmente bem com a leitura e escrita nas nossas escolas do século XXI?

                   A escola tem um papel primordial na leitura e o favorecimento a seu acesso, chegando às vezes a ditar regras no mercado editorial brasileiro, indo muito além da missão de formar e estimular leitores.

                  Apesar de toda essa facilidade, a leitura e escrita na escola básica estão deixando a desejar, o que é comprovado por inúmeras pesquisas de universidades, sindicatos de professores municipais e estaduais e também alguns setores do ministério da educação.

                 Entendemos que a leitura, apesar da individualidade do ato que deve ser realizado, já que ninguém pode efetivamente fazer a leitura literal de obras completas por outrem, deve ser considerado um ato social porque existe um processo de comunicação e de interação entre o leitor e o autor do texto, ambos com objetivos estabelecidos anteriormente dentro do contexto de cada um.                                                                                                            

             Na visão de Giasson (1993, p.21) e Cavalcanti (1989, p.45), a leitura é um processo interativo entre três variáveis: texto-leitor-contexto e cada uma dessas variáveis devem ser estudadas porque estão interligadas. De um lado, está o leitor, com o seu contexto e seus objetivos de leitura e, de outro, o texto, com o contexto e os objetivos do autor. Isso se verifica em situações de pesquisa formal e informal, obtenção de informação utilitária, formação profissional ou cultural ou de desempenho profissional, em que qualquer indivíduo, que se proponha a ler os textos existentes sobre o assunto pretendido, deverá realizar a leitura conforme objetivos de cada situação.

             Ainda que todo trabalho profissional solicite a leitura, seja para capacitação ou atualização, existem atuações profissionais exercidas somente pela leitura, como por exemplo, a atuação de um tradutor, de um escritor, de um pesquisador, de um crítico literário, de um indexador, de um resumidor ou de um classificador. Daí pode entender que as leituras realizadas para uma atuação profissional são leituras profissionais realizadas por leitores profissionais. E aqui, distinguimos a prática de leitura para a formação e atualização profissional, aquela que visa a aumentar e aprimorar o conhecimento profissional, a prática de leitura para a cidadania, aquela que proporciona uma visão ampla do mundo e transformação do indivíduo em sua convivência social e a prática de leitura para atuação profissional, que visa a atingir objetivos profissionais dentro de um contexto de trabalho.

             Portanto, devemos envidar todos os esforços para que essa prática realmente aconteça e que consigamos reverter esse quadro tão pernóstico que é o da pouca leitura realizada no Brasil.

             Alguns fatores se fazem necessários citar para que não pese apenas sobre a escola a culpa simples e única do ensino ultrapassado e fragmentado, sem significação, que vem sendo aplicado atualmente nas escolas, em todo o território nacional. Trata-se de práticas sociais internalizadas, que historicamente foram, e de certo modo continuam sendo; patrimônio de certos grupos, o que nos leva a enfrentar e tentar buscar caminhos para resolver as tensões existentes na instituição escolar entre a tendência à mudança (democratização do ensino) e a tendência à conservação tradicionalista (reprodução da ordem social estabelecida).

             É difícil ainda, porque o ato de ensinar a ler na escola tem a finalidade puramente didática para preservar a ordem pré-estabelecida, o que a distancia da função social que pressupõe ler para se comunicar com o mundo, para conhecer outras possibilidades de refletir sobre uma nova perspectiva, para se tornar um cidadão pleno.

             Os projetos poderiam ser um auxílio muito grande e até mesmo uma saída, já que permitem uma articulação dos saberes sociais e escolares. Além disso, o trabalho com projetos estimula a aprendizagem, favorece a autonomia, já que envolve toda a classe, evita o parcelamento do tempo e do saber, já que tem uma abordagem multidisciplinar e é abrangente e bastante integradora, no tocante às capacidades dos envolvidos.         

             Outro fator que deveria ser citado é a formação continuada dos professores por profissionais bem capacitados e conhecedores profundos da prática pedagógica. Quanto mais conhecedores de como se dá o processo de ensino-aprendizagem da leitura na escola, mais estarão em condições de ajudar o professor em sua prática docente cotidiana, na sua práxis pedagógica, auxiliando ainda na questão da péssima remuneração e valorização do professor, que também é um dos fatores que influencia nesse processo de ensino, tentando através de toda sua potencialidade intelectual, elevar a auto-estima dessa classe profissional tão desgastada pelos embates salariais, nas últimas décadas, principalmente no Estado de São Paulo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

ALLIENDE Felipe e Mabel CONDEMARÍN A leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

 

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.

 

______, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases, 9394/96.

 

______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. 1998

 

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo, Cortez, 2001.

 

ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo, Secretaria de Estado da Educação: CENP, 2004.